Os anos passam, mas certas coisas nunca mudam. Determinados conceitos são imutáveis na nossa sociedade, já outros são completamente variáveis e se manifestam de acordo com a geração que está no comando. Muitos conceitos que eram comuns quando eu nasci hoje não passam de pensamentos retrógrados e totalmente arcaicos, que só trazem atraso para a nossa sociedade como um todo.
Apesar disso, temos conceitos que se perpetuam, mesmo embora, muitas parcelas da sociedade atualmente sejam extremamente opostas à essas ideias. Nossa sociedade é paradoxal demais, estamos passando por tempos em que as diferenças valem mais do que as igualdades, que é melhor se promover o que separa do que o que une.
Falo isso, pois passei por uma situação curiosa ontem, estava num bar conversando sobre a possibilidade de patrocínio para o meu bloco de carnaval, quando não pude deixar de ouvir o papo de uma mesa de mulheres ao lado da qual eu estava. Eram 4 mulheres entre 25 e 35 anos, ou seja, da minha faixa etária, conversando sobre os assuntos mais diversos e tendo posições dispares sobre vários, até que o assunto chegou ao que parece ser o assunto do momento: RELACIONAMENTOS.
Gosto de ouvir a posição dos outros sobre relacionamentos, ainda mais quando essa posição é dita em uma mesa de bar, após algumas muitas garrafas de Amstel e sendo falada em alto e bom som. Acho que a maior parte das pessoas que estavam no bar pararam para ouvir, tanto que o dono do bar, com quem eu conversava, falou para darmos um tempo e ouvir a conversa também, afinal, somos homens e é sempre bom saber o que as mulheres pensam.
Vou retratar uma parte do diálogo e vou identificar as moças que travaram a épica batalha como Loira e Morena, simplesmente por serem as características mais marcantes de ambas e porque eu realmente não sei o nome delas, senão, os colocaria. As outras duas só fizeram pequenas intromissões, mas nada que mereça ser registrado, o importante é o que a Loira e a Morena falaram e o porquê disso ter me feito escrever esse texto.
Começo com a tese da Morena: - Amiga, eu estou à procura de um homem que me satisfaça como mulher, não preciso de dinheiro de homem para ser feliz, já ganho o meu, de forma honesta e você sabe que não ganho mal, então, não teria problema nenhum em sair com um cara duro, desde que esse cara me fizesse bem. (Nota mental desse que vos fala – Quase levantei, me apresentei e convidei-a para tomar um chopp comigo. Risos)
Nisso a Loira rebateu: - Ai, amiga, que nada. Nunca admitiria sair com um homem que ganha menos do que eu. O cara pra ficar comigo tem que fazer por onde, tem que ter carrão, tem que me levar pra jantar em lugar caro, tem que ser mais bem sucedido do que eu e ainda por cima, não pode se preocupar que eu não pague as contas, se duvidar, tem que me ajudar a pagar as minhas de casa. (Nota mental desse que vos fala – Me segurei na minha mesa pra não me meter na conversa e já dar uma voadora nos peitos da mulher, pra ver se ela caía na realidade)
Continuaram as argumentações, com apartes das outras duas moças, contudo, a Loira e a Morena cada vez mais exaltadas com a discussão, eu prestava atenção ao papo delas, mas também já percebendo que não conseguiriam, uma convencer a outra, já ia retomando o meu papo com o dono do bar, quando de repente, a Morena deu a cartada final na discussão, realmente já muito alterada, não sei se pelas 12 garrafas de cerveja que elas beberam ou se somente pelo clima belicoso da conversa quando ela lançou: - Amiga, não vejo diferença nenhuma entre você e uma piranha, afinal, as duas só estão com o cara pelo dinheiro. (Pano rápido, por favor)
O clima meio que serenou, as outras duas ficaram com cara de tacho, a Loira ficou mega ofendida, dava pra ver nos olhos dela que se ela pudesse, se pudesse mesmo, dava porrada na Morena. Contudo, acho que a Morena se arrependeu do que falou e tentou consertar e aí que está, a emenda foi pior que o soneto. A Morena abriu o coração e falou: - Estou em busca de um amor, e busco mesmo, você sabe amiga, se for pra transar com quem pode pagar por mim, além de ser uma puta, vou ficar seca, porque ganho muito bem pra ter que esperar por homem rico que me queira e outra, tenho conteúdo. Não tenho que aturar qualquer babaca só porque ele tem dinheiro, prefiro mil vezes um homem que seja legal, me queira bem e cuide de mim do que um cara que tenha dinheiro e defeque pela boca. Sei que você curte ser tratada como uma qualquer, mas eu não, eu nasci pra ser princesa. E no meu caso, a princesa pode sim casar com plebeu, porque não é dinheiro que traz a felicidade. (Quase levantei e aplaudi de pé!!!)
O clima ficou de merda, a Loira com cara de choro a essa altura, as outras duas concordando com a Morena, dizendo que o que importa é ser feliz mesmo, que nada no mundo paga a felicidade e blábláblá... Elas ficaram no bar até a hora em que eu saí de lá, mas o clima era esse, parecia que alguém tinha morrido pra Loira e as outras totalmente tranquilas com a situação, certas de que devem procurar o amor.
Mas pra mim ficou a ideia: Você é machista, moça! Afinal de contas, o que conta para uma mulher, estabilidade financeira ou alguém que seja realmente seu companheiro? Falo isso, porque já conversei com várias amigas minhas e muitas delas são como a Loira, não admitem que um homem possa ser pobre e mesmo assim fazê-las feliz, preferem um babaca rico que um cara apertado nas contas, mas que as façam bem.
Outras amigas já são diferentes, admitem ter um homem que seja de uma classe social mais baixa, desde que o cara seja realmente alguém especial, as faça bem, as trate bem, cuide delas, tenha uma boa cabeça, seja um cara de princípios e tudo mais.
Curioso, que não vejo essas minhas amigas como feministas, de forma alguma, elas apenas não são machistas como as outras. A pior coisa é a mulher machista, dessas que reforçam estereótipos tanto de homens quanto de mulheres como se fosse o século XIX em pleno século XXI.
Pois, senão, vejamos, no século XIX, uma mulher se casava por imposição dos pais, esses, pensavam no melhor para o sustento de suas filhas, casando-as com alguém de “bem”, com posses, que fosse “dotô”. Qual a diferença disso para uma mulher que quer trocaria o homem que ela ama por um outro só porque ele tem mais dinheiro?! Realmente não vejo a menor diferença. A única diferença que vejo, é que antes os pais tinham total poder de decisão e o amor da mocinha de nada valia e ela tinha que se casar com quem era ordenada.
Hoje, depois da revolução sexual, de as mulheres tomarem o poder, do Girl Power, das conquistas das mulheres, dos perrengues que as mulheres passaram e ainda passam por conta de uma sociedade machista como a nossa, que é hipócrita, pois não se diz machista, uma mulher ainda ter uma postura dessa de preterir o amor ao dinheiro, isso é a maior prova de que ser machista não depende de gênero, mas sim de vontade.
Eu admito, não sou nem um pouco machista, aliás, sou mega feminista, acho que as mulheres são mais capazes de resolver os conflitos do mundo, deveriam ter mais mulheres em cargos de poder, na política, nas grandes empresas, nas administrações de grandes conflitos... Mulheres são melhores em ouvir, em buscar soluções, em cuidar, em se expressar... Mulheres são mais atentas, correm menos riscos meramente pelos riscos, elas são mais justas... Mulheres são o melhor da raça humana. Acho que se o mundo fosse realmente regido pelas mulheres, a gente não teria tantos conflitos, problemas, guerras e afins, as mulheres gostam de dialogar, realmente são mais abertas ao papo, a resolução dos conflitos e não precisam se afirmar sexualmente para as outras mulheres como nós homens.
A verdade é simples, o machismo é uma forma tão atrasada de pensamento que não traz nenhuma vantagem para as mulheres, só atrai desgraça. Contudo, existem mulheres que pegam e pregam o feminismo, mas usam ele na mesma moeda do cavalheirismo. Ou seja, só querem as vantagens, querem receber o mesmo que os homens, chegar aos mesmos cargos, ter a mesma importância e ainda assim, que o cara pague a conta do bar, restaurante ou motel, quer que o cara que dirija, mesmo que seja o carro dela, quer que o cara mande flores, procure e tudo mais, mesmo quando ela está interessada.
Mas não dá pra ser assim, ou você tem uma coisa ou você tem outra, você não pode querer só os bônus na vida. Tudo têm bônus e ônus, ou seja, você pode ser feminista e pode querer o cavalheirismo, mas não pode impor nada. Porque uma mulher bem-sucedida não pode simplesmente pagar por um jantar, pagar o motel, buscar o cara pra sair? Onde está escrito que não pode pagar uma conta, que não pode dirigir o seu carro ou que você não pode fazer o convite pro cara pra vocês saírem?
Um conselho para as mulheres, valorizem-se! Não deixem que um cara dê um valor qualquer pra vocês, afinal, se ele tá pagando por tudo, ele está sabendo o quanto você custa pra ele, e acredite, a gente pensa sim nessas coisas, em quanto que está sendo investido. Se você se deixa ter qualquer valor, não pode depois reclamar que o cara te trata mal. Como a Morena disse: “Não tenho que aturar qualquer babaca só porque ele tem dinheiro, prefiro mil vezes um homem que seja legal, me queira bem e cuide de mim do que um cara que tenha dinheiro e defeque pela boca”.
Valorizem-se, mulheres! Prefiram o amor, mas acima de tudo, não sejam machistas, não se subjuguem por ninguém, vocês merecem sim a felicidade e pra isso devem ser tratadas de igual para igual, não como objeto ou como um produto. Só vocês podem acabar com o machismo.
Poema originalmente publicado no 15 de janeiro de 2016 no antigo O Blog Do Victão.