Qual seu espanto? Mataram mais um menino que não era branco
Não foi na zona sul. Foi alvejado pelas costas por alguém de farda azul
Esse é o dilema. No Brasil ter pele preta é um grande problema
Nenhum de nós está salvo. Aqui a gente já nasce com tatuagem de alvo
Nunca é diferente. A bala perdida só acha quem é como a gente
Despreparo e destempero. A bala perdida só acha ao jovem negro
Racismo estrutural. Aqui se atira primeiro e pergunta ao final
Estado matreiro. Todo camburão tem um que de navio negreiro
Arrepio na favela. O caveirão deixa corpos por becos e vielas
Aponta a estatística. Mais um negro morto para se fazer de vítima
Mais um pra conta do BOPE. A morte de preto é coisa do IBOPE
É só mais um número. É só mais um aborto só que fora do útero
Agatha, Jenifer, Kauan, João Pedro, Arthur, Victor, Carol e Kauê
Não são números, são famílias que o Estado fez sofrer
Preto pobre tem o mesmo medo de polícia e de bandido
Tem medo de levar um tiro pelas costas mesmo já rendido
Ser confundido com bandido só por conta da sua cor
Sociedade hipócrita atira destilando o seu rancor
Matam um, matam dois, matam cem, matam mil
Eu sei que a carne negra é descartável no Brasil
Matam mil, matam cem, matam dois, matam um
O Brasil finge que a nossa vida não tem valor nenhum
Mata um, matam cem, matam mil, mata mais
Negro nasce no Brasil que é pra sofrer demais
Qual seu espanto?
Não foi na zona sul.
Esse é o dilema.
Racismo estrutural.
Estado matreiro.
Arrepio na favela.
Qual seu espanto?
Não foi na zona sul.
Não fariam em Ipanema.
Racismo estrutural.
Estado matreiro.
Mais um reza a vela.