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Um Tiro no Meio da Noite Escura

O estampido ressoou por todo o apartamento

A cena era pior que aquelas de filme de terror

Não conseguiu segurar os sentimentos

Só pensava desde então em afligir dor

Não se sentia mais bem consigo

Não se via mais como um bom lugar

No espelho tinha o pior inimigo

Alguém a quem não deveria amar

O gosto de chumbo queimava-lhe a garganta

Julgava não possuir mais qualquer saída

Sabe que fugir já não adianta

Pra sua dor nenhum outro remédio era a medida

Antes disso, já deixara tudo preparado

Seu diário estava aberto sobre a cama

Seus atos mostravam alguém desesperado

Sofria por alguém que já não o ama

Os entorpecentes embriagavam-lhe a mente

Desta forma se via repleto de coragem

Já ensaiara, mil vezes, a luz reluzindo em sua frente

Queria a certeza de que o vermelho e o cinza formariam boa imagem

Apreciava a beleza de uma obra completa

Pintura e poesia, os restos na parede e as linhas do diário

Quando imaginava o fim, via de alegria a alma repleta

Já via tudo aquilo como um mal necessário

Estava focado em realizar tal façanha

Não estava preocupado com os ferimentos

A dor era tamanha que queimava as suas entranhas

Que só pensava em acabar com o sofrimento

Não via mais sentido em lutar

Queria sair do anonimato

Pensava que só assim conseguiria descansar

Está disposto a tudo pelo seu último ato

Chorava copiosamente de nervoso

Já não conseguia confiar nas suas ações

Mantinha-se um constante estado raivoso

A dor e a agonia lhe causavam estranhas reações

O contato do aço com a sua pele

Lhe dava um facho de esperança

Para si deu sentença para que não apele

Passaria a ser para sempre apenas uma lembrança

Assumia assim, sua incompetência em controlar sua vida

Admitia que foi imperito em se administrar

Abria mão de continuar com sua vida corrida

O melhor a fazer era buscar um bom lugar

Achava que o além era o único lugar onde seria feliz

Fez as malas pois queria partir

Não queria mais ouvir o que ninguém diz

Não tinha mais como a sua fúria tolir

Sacou o revólver e finalmente o gatilho puxou

Sabia que ninguém chegaria a tempo de rendê-lo

O perfume da pólvora, o gosto do chumbo e tudo rodou

Saltou da cama, num susto, era tudo um pesadelo

Acordou todo suado, um pouco atordoado

Ainda sentia o cheiro de pólvora sufocar a garganta afinal

Sentia a fronte queimar como se tivesse sido alvejado

Nunca antes tivera um sonho tão real

Não conseguiu entender bem o que tinha se passado

Parecia um aviso, tudo aquilo que aconteceu

Não queria mesmo ter suicidado

Achou que tudo isso era um aviso de Deus

Poema originalmente publicado no 30 de junho de 2016 no antigo O Blog Do Victão.

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