Um Tiro no Meio da Noite Escura
- oblogdovictao
- 30 de jun. de 2016
- 2 min de leitura
O estampido ressoou por todo o apartamento
A cena era pior que aquelas de filme de terror
Não conseguiu segurar os sentimentos
Só pensava desde então em afligir dor
Não se sentia mais bem consigo
Não se via mais como um bom lugar
No espelho tinha o pior inimigo
Alguém a quem não deveria amar
O gosto de chumbo queimava-lhe a garganta
Julgava não possuir mais qualquer saída
Sabe que fugir já não adianta
Pra sua dor nenhum outro remédio era a medida
Antes disso, já deixara tudo preparado
Seu diário estava aberto sobre a cama
Seus atos mostravam alguém desesperado
Sofria por alguém que já não o ama
Os entorpecentes embriagavam-lhe a mente
Desta forma se via repleto de coragem
Já ensaiara, mil vezes, a luz reluzindo em sua frente
Queria a certeza de que o vermelho e o cinza formariam boa imagem
Apreciava a beleza de uma obra completa
Pintura e poesia, os restos na parede e as linhas do diário
Quando imaginava o fim, via de alegria a alma repleta
Já via tudo aquilo como um mal necessário
Estava focado em realizar tal façanha
Não estava preocupado com os ferimentos
A dor era tamanha que queimava as suas entranhas
Que só pensava em acabar com o sofrimento
Não via mais sentido em lutar
Queria sair do anonimato
Pensava que só assim conseguiria descansar
Está disposto a tudo pelo seu último ato
Chorava copiosamente de nervoso
Já não conseguia confiar nas suas ações
Mantinha-se um constante estado raivoso
A dor e a agonia lhe causavam estranhas reações
O contato do aço com a sua pele
Lhe dava um facho de esperança
Para si deu sentença para que não apele
Passaria a ser para sempre apenas uma lembrança
Assumia assim, sua incompetência em controlar sua vida
Admitia que foi imperito em se administrar
Abria mão de continuar com sua vida corrida
O melhor a fazer era buscar um bom lugar
Achava que o além era o único lugar onde seria feliz
Fez as malas pois queria partir
Não queria mais ouvir o que ninguém diz
Não tinha mais como a sua fúria tolir
Sacou o revólver e finalmente o gatilho puxou
Sabia que ninguém chegaria a tempo de rendê-lo
O perfume da pólvora, o gosto do chumbo e tudo rodou
Saltou da cama, num susto, era tudo um pesadelo
Acordou todo suado, um pouco atordoado
Ainda sentia o cheiro de pólvora sufocar a garganta afinal
Sentia a fronte queimar como se tivesse sido alvejado
Nunca antes tivera um sonho tão real
Não conseguiu entender bem o que tinha se passado
Parecia um aviso, tudo aquilo que aconteceu
Não queria mesmo ter suicidado
Achou que tudo isso era um aviso de Deus
Poema originalmente publicado no 30 de junho de 2016 no antigo O Blog Do Victão.
Comentarios