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Maturidade

A morte espreita, ronda

Bate à porta e quem quer atender?

Eu ainda tenho muito o que viver

Mas sinto que já não tenho muito tempo

Já não sou mais tão veloz quanto antes

Contudo, na minha velocidade já sei encurtar caminhos

Já não sou mais tão resistente quanto antes

Porém, sei bem as barras que consigo segurar

O tempo já não é meu aliado

Todavia, também não é meu inimigo

A certeza da finitude

Já é maior que a imortalidade da juventude

Já não me iludo com palavras ou frases

Pra mim, só os gestos significam algo

Já sei quem é pro sim, pro não e pro foda-se

E sei também que nem todos que me abraçam me querem bem

A maturidade da mente não acompanha o corpo

Já sou muito velho para estripulias

De toda maneira, sou muito novo para desilusões resignadas

Hoje tenho mais dúvidas do que certezas

Só que as poucas certezas que tenho são inegociáveis

Não sou mais jovem para morrer

Apesar de que, se morro amanhã, vão falar que morri novo

Que tinha muito ainda pra viver

Tudo isso é muito irônico

Afinal, já tive um filho, já plantei uma árvore e já escrevi alguns livros

E ainda assim, ainda tenho tanto por fazer

Olho no espelho e vejo minhas rugas e cabelos brancos

E no meu olhar ainda vejo algo a brilhar

Estou melhor do que preciso

Ainda assim, pior do que mereço

Vou andando como posso

E sigo sendo como sou

Sempre sendo a melhor versão de mim

Não a que os outros mais gostam

Entretanto, a que mais me agrada

Me restam só duas certezas:

Morte e impostos

Melhor cuidar da saúde

Afinal, ainda há muito o que se viver

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