Passam por mim e não me enxergam
Quando não me veem, não me notam
Quando me notam, fogem
Quando não fogem, me agridem
Quando não me agridem, me prendem
Quando não me prendem, me matam
Quanto mais eu luto, mais eu me dano
Quanto mais eu tento, mais eu me lasco
Quanto mais eu busco, mais eu me afasto
Quanto mais eu me esforço, mais eu me acabo
Quanto mais eu sonho, mais eu me desamparo
Quanto mais eu faço, mais eu me canso
Mas meu sangue segue pulsando nas veias
O grito segue querendo deixar a garganta
Os meus pés também querem descansar na areia
Também quero pertencer a família sacrossanta
Quero que chegue ao fim meu tempo de corveia
E só reste para mim aquilo que encanta
Mas não são vocês que vão ditar meu destino
Vou seguir fazendo o meu caminho
Apesar de vocês me tentarem fazer clandestino
Ando longe de quem trabalha com descaminho
Seus atos não me levarão ao desatino
Sempre preto, assim me encaminho