A Cidade que não Tem Nome
- oblogdovictao
- 30 de jun. de 2020
- 2 min de leitura
A Cidade Que Não Tem Nome
Vou andando por estradas cinzas
Seguindo por caminhos que nunca estive antes
Buscando a casa que não tem número
Para conhecer as pessoas que não têm rosto
Ouvir a voz dos mudos que me encontram
Gritar com os surdos que me escutam
Nessa cidade que não tem nome
Sem asas, sem casa, sem medo e com fome
A morte me espreita em cada copa de árvore
Eu faço o salto tortuoso de quem perdeu a calma
No penhasco que expia os pecados intrínsecos
Tentando achar a paz que eu perdi há tempos
Encontrando o martírio dos desolados
Sou mais um da cidade que não tem nome
Vagando por entre becos e largos escuros
A todo tempo cruzo com almas atormentadas
Choram por dores que nem sabem a causa
Sofrem por males que lhes lancinam
Reverberam a consciência coletiva das almas
Passam fome diante do banquete da solidariedade
Ali está a cara da Humanidade
Na cidade que não tem nome
Pobres despojam espólios de miseráveis
Explorados por outros quase pobres também
Que são pobres de tanta coisa que só têm dinheiro
E sofrem vendo a felicidade daqueles que eles roubam
Pobres, pretos, mulheres, gays e necessitados
Seu sangue é que azeita a roda do destino
Em plena cidade que não tem nome
Sinto que nada disso ocorre por acaso
Vejo o futuro ser um reflexo do que passou
Me perco em meio aos vales sinuosos
Navegando por curvas e redondilhas agudas
Tentando por a cabeça para fora dágua
Enquanto tento achar o meu lugar sob o sol
No meio da cidade que não tem nome
Os meus medos fui eu que criei
As neuropatias já cruzam o meu caminho
Enquanto as tormentas afundam os barcos no cais
Eu sou um poço de incertezas e dúvidas
Condensando afetos para eles não caducarem
Me valendo de entorpecentes legalmente receitados
Para deixar de ser essa cidade que não tem nome
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